terça-feira, 12 de abril de 2011

RADIAÇÃO: o novo temor mundial!!

Diante da tragédia que assola o Japão, deparamo-nos com uma preocupação que supera a dos fenômenos naturais ocorridos nesse país: a radiação provinda das usinas nucleares.

Entre notícias, boatos, medos, divulgações fantasiosas e dados reais, surge a dúvida de como esse fato pode interferir na saúde dos habitantes das cidades de Fukushima e Tóquio, bem como nos das outras cidades japonesas e até mesmo no restante do mundo.


Primeiro, é importante entendermos como a radiação age e como ela se espalha no meio a ponto de tornar-se a ameaça anunciada.

Segundo pesquisadores, diferentes tecidos reagem de formas distintas às radiações. Podemos considerar como células mais sensíveis as dos sistemas linfático e hematopoiético (medula óssea) e as do epitélio intestinal, fortemente afetadas quando irradiadas. Já os tecidos musculares e os neurônios apresentam baixa sensibilidade às radiações.

Efeitos no organismo
As radiações decorrentes da tragédia no Japão são consideradas ionizantes, ou seja, produzem íons, radicais e elétrons livres na matéria que sofreu a interação. Isso ocorre devido à elevada emissão de energia, suficiente para quebrar as ligações químicas ou expulsar elétrons dos átomos após as colisões.

A contaminação pela radiação ionizante no organismo ocorre em quatro etapas:

1.Estágio físico inicial - dura somente uma fração de segundo (10 a 16s), em que a energia é depositada na célula e causa ionização.
2.Estágio físico-químico - dura cerca de 10 a 16 segundos , intervalo em que os íons interagem com outras moléculas de água, resultando em novos produtos.
3.Estágio químico - dura uns poucos segundos, em que os produtos da reação interagem com as moléculas orgânicas mais importantes da célula. Os radicais livres (H, OH) e os agentes oxidantes (H2O2) podem atacar as moléculas compostas que formam o cromossomo.
4.Estágio biológico - dura de dezenas de minutos a dezenas de anos, dependendo dos sintomas. As alterações químicas citadas acima podem danificar a célula de várias maneiras: provocando a sua morte prematura, impedindo a divisão celular, ocasionando mutagênese, entre outras.
A ação da radiação sobre o DNA depende de vários fatores, ocasionando diversos processos no organismo.

No DNA, ocorrem alterações químicas como: alterações estruturais das bases nitrogenadas e das desoxirriboses; eliminação de bases; rompimento de pontes de hidrogênio entre duas hélices; rotura de uma ou duas cadeias; e ligações cruzadas entre moléculas de DNA e proteínas.

Essas alterações no DNA causam modificações somáticas e hereditárias.

Os efeitos somáticos acarretam danos nas células do corpo da pessoa que recebeu a contaminação, mas não interferem nas gerações posteriores.

Os principais efeitos registrados são assim descritos por Fabio Antonio Schaberle e Nelson Canzian da Silva, da UFSC (Departamento de Física):

■Sangue: Os glóbulos brancos do sangue são as primeiras células a serem destruídas pela exposição, provocando leucopenia e reduzindo a imunidade do organismo. Uma semana após uma irradiação severa as plaquetas começam a desaparecer, e o sangue não coagula. Sete semanas após começa a perda de células vermelhas, acarretando anemia e enfraquecimento do organismo.
■Sistema linfático: O baço constitui a maior massa de tecido linfático, e sua principal função é a de estocar as células vermelhas mortas do sangue. As células linfáticas são extremamente sensíveis à radiação e podem ser danificadas ou mortas quando expostas.
■Canal alimentar: Os primeiros efeitos da radiação são a produção de secreção e descontinuidade na confecção de células. Os sintomas são náuseas, vômitos e úlceras no caso de exposição muito intensa.
■Glândula tireoide. Essa glândula não é considerada sensível à radiação externa, mas concentra internamente iodo-131 (radioativo) quando ingerido, o que causa o decréscimo da produção de tiroxina. Como consequência, o metabolismo basal é diminuído e os tecidos musculares deixam de absorver o oxigênio necessário.
■Sistema urinário: A existência de sangue na urina, após uma exposição, é uma indicação de que os rins foram atingidos severamente. Danos menores nos rins são indicados pelo aumento de aminoácidos na urina.
■Ossos: A radiação externa tem pequena influência sobre as células dos ossos, fibras e sais de cálcio, mas afeta fortemente a medula vermelha.
■Olhos: Ao contrário de outras células, as das lentes dos olhos não são auto-recuperáveis. Quando estas células são danificadas ou morrem, há formação de catarata, ocorrendo perda de transparência dessas células.
■Órgãos reprodutores: Doses grandes de radiação podem produzir esterilidade, tanto temporariamente como permanente. A sensibilidade de gestantes é maior entre o 7º e o 9º mês de gestação. Nas mulheres grávidas que foram expostas às radiações no Japão durante o episódio em que duas bombas atômicas foram lançadas sobre aquele país, houve um aumento significativo de partos retardados e mortes prematuras.
No caso dos efeitos hereditários ou genéticos, o resultado da irradiação aparece nas células sexuais sendo transmitida aos seus descendentes, pois atua diretamente sobre as gônadas (órgão reprodutores). A mutagênese observada pode levar desde a morte do feto até alterações de má formação de órgãos.

Sobre a contaminação no Japão, os níveis de radiação divulgados nos noticiários fornecem uma noção da gravidade da situação.

Níveis de contaminação
Normalmente segue-se a escala de sete níveis criada pelo INES (International Nuclear and Radiological Event Scale), para realizar a comunicação imediata de segurança e ação em casos de acidentes nucleares. Essa escala é logarítmica, na qual cada nível representa um aumento de acidentes, aproximadamente dez vezes mais grave do que o nível anterior.

Níveis de contaminação por radiação ionizante, segundo o INES, são os seguintes:

Nível 0 - abaixo da escala. Nenhuma importância com relação à segurança.

Nível 1 - anomalia. Pode decorrer de uma falha de equipamento, de um erro humano ou de procedimentos inadequados. Essas situações são consideradas tipicamente “abaixo da escala”.

Nível 2 - incidente com falha importante dos dispositivos de segurança, resultante do fato de um trabalhador receber uma dose acima do limite de dose anual estabelecida e/ou evento que implique a presença de quantidades significativas de radioatividade em áreas da instalação para as quais, de acordo com o projeto, tal fato não seria justificável, exigindo-se medidas corretivas.

Nível 3 - liberação externa acima dos limites autorizados, resultando, para o indivíduo mais exposto fora da área da instalação, numa dose da ordem de décimos de miliSieverts (as doses são expressas em termos de dose equivalente efetiva; dose de corpo inteiro).

Nível 4 - acidente sem risco importante fora da área da instalação. Liberação externa de radioatividade que resulte, para o indivíduo mais exposto fora da área da instalação, numa dose da ordem de alguns miliSieverts. Com essa liberação, seria pouco provável a necessidade da aplicação de medidas de proteção fora da área de instalação, executando-se, talvez, um controle dos alimentos locais.

Nível 5 - acidente com risco fora da área da instalação. Liberação externa de materiais radioativos. Essa liberação resultaria, provavelmente, na aplicação parcial das contramedidas previstas nos planos para casos de emergência, com o objetivo de reduzir a probabilidade de efeitos sobre a saúde.

Nível 6 - acidente sério. Liberação externa de materiais radioativos. Essa liberação resultaria, provavelmente, na aplicação integral das contramedidas previstas nos planos locais para casos de emergência, visando limitar os efeitos graves sobre a saúde.

Nível 7 - acidente grave. Liberação externa de uma fração importante de material radioativo de uma instalação grande. Seria constituída, tipicamente, de uma mistura de produtos de fissão radioativos de vidas curta e longa. Essa liberação poderia ocasionar efeitos tardios para a saúde da população de uma vasta região, possivelmente, mais de um país, e consequências em longo prazo para o meio ambiente. Um exemplo desse nível é o acidente de Chernobyl, na Ucrânia (1986).
A análise dos níveis de contaminação é feita com a utilização de um aparelho chamado contador geiger, que detecta a presença de radiação usando a capacidade que as partículas radioativas têm de ionizar certas moléculas de argônio que reagem produzindo a migração de íons criando um pulso de corrente elétrica que é transmitida a um amplificador, resultando num som característico. Quanto mais partículas radioativas houver, maior será a corrente elétrica, mais rápido o som é transmitido.


O que nos resta a fazer diante desses dados e desse quadro vivido no Japão? Esperar que as autoridades japonesas, num gesto político, mas humano, repassem a veracidade dos dados para que possamos tomar as medidas necessárias para evitar, como pudermos, os danos à saúde, preservando a vida.

 Por Anna Thereza Santos Ferreira
Referência
SCHABERLE, Fabio Antonio; SILVA, Canzian Nelson. Introdução à Física da Radioterapia. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências Físicas e Matemáticas. Departamento de Física. Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2011.
Disponivel em: http://blog.aprendebrasil.com.br/blog_bio/radiacao-o-novo-temor-mundial/#comments

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